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Quando Deus é o chefe do homem e o homem é o chefe da mulher


O livro "Tirs Croisés", de Caroline Fourest e Fiammetta Venner fala sobre como os principios do integrismo e do extremismo é praticamente o mesmo nas religioes catolica, judia e muçulmana. O primeiro capitulo aborda a situaçao das mulheres nessas três religioes (na sua forma mais fundamentalista) e como todas elas sao usadas para oprimir o sexo feminino.

Os judeus ultra-ortodoxos começam o dia com a oraçao: "louvado seja deus que nao me criou mulher". Ele acreditam que por causa do pecado original de Eva, todas as mulheres foram condenadas a sofrer. No livro sagrado esta escrito que as mulheres sao castigadas de nove formas: o sangue da mestruaçao e da virgindade; o fardo da gravidez; o sofrimento do parto; a responsabilidade de criar os filhos; sua cabeça coberta; os furos nas orelhas como escravas por toda a vida, que serve seu mestre; e finalmente, nao ser credivel como testemunha. O interessante é que a maior parte desses "castigos" sao inflingidos pelos homens, nao pelos céus. Até mesmo por nao permitir a mulher a escolha do aborto e de outros métodos para nao passar pelo fardo da gravidez se ela nao quiser. A judia ultra-ortodoxa so serve para ser mae e se nao consegue cumprir a tarefa é excluida da comunidade. O homem pode facilmente se separar, mas a mulher precisa da autorizaçao do marido para conseguir.

No catolicismo radical a situaçao das mulheres é a mesma. Sao Paulo era um dos que mais pregava a dominaçao masculina. Ele disse: "O chefe de todo homem, é deus; o chefe da mulher, é o homem". Os militantes integristas cristaos dizem que a funçao da mulher é ser portadora de homens (a Maria Mariana aprendeu bem a liçao e saiu repetindo isso por ai). O interessante é que eles descobriram que era muito mais eficaz quando as proprias mulheres pregavam isso, nao os homens. O que aconteceu foi uma situaçao curiosa: as mulheres ultra-conservadoras deixaram seus lares para militar pelo dever das mulheres de ficar em casa. Ah ta.

Os militantes cristao prolife (nome altamente contestavel) lutam essencialmente contra o aborto. Um caso que me chocou no livro foi o de uma menina americana de treze anos que foi morta pelo pai porque ia fazer um aborto. Ela tinha sido vitima de estupro. Quem estuprou foi o pai dela.

O islamismo com certeza é o mais famoso pelas atrocidades que faz com suas mulheres. Poligamia, burcas, mutilaçao genital, apedrejamento, a lista é longa e violenta. Mas o que as autoras argumentam é que a maior parte dessas coisas todas simplesmente nao estao no Corao. Maomé era muito menos sexista do que os profetas das duas religioes precedentes, até porque muito tempo ja tinha se passado. Mas os integristas muçulmanos, nao satisfeitos com o status que o Corao da a mulher, que ja nao é nada bom, inventa, reinterpreta, pega idéias emprestadas de outras religioes para oprir as mulheres bem do jeitinho que eles querem. Em nenhum momento o livro sagrado diz que as mulheres devem usar véu, por exemplo. Existem algumas passagens onde ele descreve que algumas mulheres usam, mas é so uma descriçao, nao uma recomendaçao.

O livro fala muito da Arabia Saudita e eu fiquei surpresa de saber que um pais tao rico é tao reacionario, juro que pensei que eles fossem mais democraticos. Elas contam que em 2002 houve um incêndio na escola das meninas e que as alunas se precipitaram para a unica porta entre os muros altos (para protegê-las, claro) que o colégio tinha. A diretora so podia ligar para os bombeiros depois de pedir autorizaçao à presidência da educaçao feminina. A porta era trancada por fora e o guardiao nao abriu porque as meninas nao tinham autorizaçao para sair. Quando os bombeiros chegaram, a policia religiosa nao as deixou sair porque elas estavam sem véu. Resultado, quinze meninas morreram. E nao deixaram os transeuntes ajudar as sobreviventes para evitar o contato misto.

A diferença entre essas três religioes é que o judaismo e o catolicismo sao restritos à esfera pessoal, enquanto o islamismo é legitimado por muitos Estados. Uma adultera pode se defender da ira do marido judeu ultra-ortodoxo pedindo ajuda ao governo, mas o que fazer quando a barbarie é justificada pelo Estado? O pai assassino e estuprador esta preso, mas onde guardar a raiva quando, na Arabia Saudita, um estuprador sai livre enquanto sua vitima é apedrejada até a morte por adultério?

Parece surreal no mundo em que vivemos, com toda a ciência que temos, que tem gente que ainda acredite em religiao. Mas tudo bem, cada um pode acreditar no que quiser, mas o Estado tem a obrigaçao de saber separar as coisas. A laicidade é um passo fundamental no avanço da humanidade. O governo tem a obrigaçao de dar os mesmos direitos para todos os individuos, sejam eles homens ou mulheres e nao justificar a dominaçao masculina por livros escritos ha milhares de anos. Enquanto a violência contra a mulher for apoiada oficialmente, é metade da força intelectual e fisica de um pais que esta sendo prejudicada. Como evoluir assim?

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