Sharon Acioly e o empresario Antonio Dyggs, de Feira de Santana-Bahia.
É um dia quente de Verão em Tristão da Cunha, que fica a 2,8 mil quilômetros do Cabo da Boa Esperança, África do Sul. A pacata ilhazinha é o local habitado mais remoto do planeta. Mas, se você tivesse que adivinhar qual música seus 270 habitantes estão ouvindo - e dançando - por lá, teria grande chance de acertar se dissesse que é a canção sertaneja Ai, Se Eu Te Pego, com Michel Teló. Parece exagero, mas a suposição é justa. Com quase 100 milhões de visualizações no YouTube, o vídeo oficial fez da música a canção brasileira mais acessada da história do site - e o sétimo vídeo musical mais visto do planeta. Além disso, está no topo do maior site de venda digital do mundo, o iTunes, em muitos países europeus e latino-americanos, e começa a entrar nos EUA (a Sony já encomendou a Teló uma versão em inglês). “Nem Teló tinha como imaginar esse sucesso! Depois de três anos de criada, a música ganhar o mundo inteiro”, diz o advogado e professor de inglês feirense Antonio Dyggs, 28 anos, um dos criadores do megahit, ao lado da animadora Sharon Acioly, 41, carioca nascida nos EUA e que mora há 15 anos em Porto Seguro. É, a música ganhou o mundo na voz do paranaense Michel Teló, 30, mas nasceu aqui. Axé Moi “Quando o vídeo do Teló bateu 1 milhão de acessos em uma semana, sabia que ia ser hit nacional”, afirma Sharon. A certeza é baseada na sua experiência com a Dança do Quadrado, hit nacional da web e das festinhas, em 2008, também de sua autoria. Antes de chegar a Feira de Santana, onde ganhou sua versão atual, “a pegada” era gritada por Sharon, em ritmo de funk, no palco da barraca de praia Axé Moi, pelo qual era responsável até pouco tempo. Ela criou o sistema de entretenimento que se firmou em Porto Seguro, com palco e programação de música, dança e brincadeiras. Foi lá, em 2008, que Dyggs ouviu o refrão. “Já em Feira, me veio a ideia de usar para fazer um forró”, explica o compositor. Dito e feito, ele entrou em contato com Sharon, ela gostou da nova música, e eles firmaram a parceria. Dono da casa de shows Kabana’s, em Feira, ele testou a música com a banda de forró que empresaria, a Meninos do Seu Zé. “Ai, Se Eu Te Pego já era sucesso em Feira e nas cidades da região desde 2009. Todo mundo tinha no toque do celular”, diz, entusiasmado, o orgulhoso ‘pai’. Só em 2010 a música chegou à banda de forró soteropolitana Cangaia de Jegue. “Eles pediram para gravar a música, e a gente liberou”, conta Dyggs. Com a Cangaia, a música torna-se conhecida na capital, mas só pegou no Brasil - e no mundo - com Michel Teló. Hebraico “Mandei essa música pra muita gente, e recebi muita porta na cara. Mas o Teló entendeu bem o que a gente queria”, recorda Dyggs. O sertanejo pop ouviu o forró por acaso, em Cruz das Almas, quando uma moça da produção passou cantarolando. Procurou saber de quem era, e chegou à dupla. “Teló é uma pessoa incrível. Entrou em contato, gravou a música, e está dando uma impulsionada violenta na nossa carreira”, elogia Sharon. O paranaense levou os dois e a Meninos do Seu Zé para São Paulo, no lançamento de sua versão sertaneja - e mais acelerada da música-, quando se conheceram pessoalmente. Sucesso no Brasil, a escalada mundial começou com superestrelas do esporte, como o jogador de futebol português Cristiano Ronaldo, o tenista espanhol Rafael Nadal e o brasileiro Nenê e outros jogadores de basquete do Denver Nuggets, da NBA. Foi só “os caras” aparecerem fazendo a dancinha da música em comemorações, que Teló “pegou o mundo de jeito”. A partir daí, foi um avalanche de versões e repercussões. No YouTube, já tem gente cantando em idiomas como o inglês, o polonês, o grego, o holandês e o hebraico. Matéria na conceituada revista americana Forbes e capa da Época... Vídeo de soldados israelenses dançando... E Bruno Medina, da Los Hermanos, polemizando, ao ironizar o sucesso... R$ 1,5 milhão Com todo o Verão brasileiro - e o mundo - pela frente, Ai, Se Eu Te Pego ainda deve dar muito pano pra manga. Mas o que todos querem saber agora é quanto os criadores baianos do sucesso - que detêm o controle total da música, decidindo sobre cada novo passo da canção - vão embolsar. Segundo informações de profissionais do meio musical, só com a execução no Brasil, nos últimos seis meses, Antonio Dyggs e Sharon Acioly ganharam R$ 240 mil, cada. No fim de tudo, quando o “bicho pegar” mesmo, em escala planetária, será em torno de R$ 1,5 milhão, no bolso de cada um. “Digamos que a gente tá confortável”, responderam quando perguntados sobre cifras. Haja conforto!
Rede Bahia